sábado, setembro 30, 2006

A obsessão pelos cornos

«...desejando Eu remover todas as causas que podem impedir, ou retardar o aperfeiçoamento moral da Nação Portugueza: Hei por bem Decretar, que d'ora em diante, fiquem prohibidas em todo o Reino as corridas de Touros»
19 de Setembro de 1836, decreto-lei aprovado por Passos Manuel

21h05. Sintomas gripais obrigam-me a ficar em casa. Vamos ver o que está a dar na TV que nós pagamos. Na RTP1, "A voz do Cidadão" - assunto: tourada. O Sr. Provedor defende a exibição de touradas na TV.
Na RTP2, "Arte e Emoção", programa assim definido no site da T.V. Cabo : "Magazine que mostra o melhor da Festa Brava em Portugal". De onde lhes vem esta obsessão por cornos?
Ainda nos querem vender a ideia de sermos todos do mesmo país? Quem é este povo bárbaro que habita o Sul e que ainda se diverte com exibições públicas de tortura animal? Temos mesmo que os aturar? Será que como contribuinte que paga os seus impostos não terei o direito de dizer: a estes senhores não dê um cêntimo do meu dinheiro?
Ultrapassando o nojo que me causa a situação, ocorre-me outra dúvida: se foi repetidamente referido pelos miúdos do processo Casa Pia haver ligação entre a rede pedófila e a transmissão de touradas pela RTP, onde inclusivamente "
alguns casapianos serviam de figurantes trajados como pajens" , esta crescente onda pró-tourada que se tem manifestado na RTP será sinal que o lobby pedófilo está mais forte? E outra pergunta: andará a PJ a vigiar os participantes nestes actos?
Como é possível que 170 anos depois de Passos Manuel (e apesar do trabalho meritório de muitas organizações, como a Animal ou a LPDA), o estado da Nação Portuguesa seja tão retardado?

P.S.: A este propósito, foi bom encontrar sintonia com Bruno Sena Martins (aqui e aqui). Assim tenho a certeza que o que vi foi real e não um delírio provocado pelo meu estado febril.

Superioridade moral.

Por vezes, não sei com o que embirro mais: se com a obsessão nacional com o Benfica (que legitima tudo o que se faça em prol do clube da freguesia de Lisboa), se com a mania da superioridade moral da lagartagem, o clube dos viscondes, betos e intelectuais deste país.
Isto a propósito do texto Azul e branqueado de CLeone no Esplanar, onde o autor pretende mostrar que os media beneficiam permanentemente o F.C.Porto (em particular o jornal Público) quer no que se refere a questões ligadas à justiça, quer nas análises à carreira desportiva das equipas de futebol.

  1. Se Cleone acha curiosa a suposta falta de destaque que teve nos media o alegado aviso prévio a Pinto da Costa por fonte da PJ, a mim surpreende-me o pouco destaque dado ao facto de Pinto da Costa efectivamente ter deixado de ter acusações de crimes de corrupção desportiva activa no âmbito do Apito Dourado, apesar de todo o barulho que se fez em torno da sua apresentação na judiciária para prestar declarações (até direito a imagens em directo teve). Ou, a propósito de destaques, porque é que a equipa do Sporting está todos os dias a ser propagandeada como um recheio interminável de jovens talentos e essa virtude nunca é atribuída ao F.C. Porto, que entre os habituais titulares tem Pepe, Cech, Ibson, Raul Meireles e Quaresma com 23 anos, Vieirinha com 20 e Anderson com 18.
  2. Se para si a frase «Baía é Baía e está tudo dito» não lhe chega, deixe-me lembrar-lhe que Baía é tão só o mais titulado jogador do planeta e leva quatro títulos de vantagem sobre os míticos Pelé e Rijkaard. Baía sozinho tem mais títulos que todo o plantel do Sporting.
  3. Se tem boa memória para entrevistas, eu também tenho. Assim de repente, recordo-me das entrevistas do programa "Donos da Bola" (seguramente mais um programa que defendia intransigentemente o F.C.Porto!) como aquelas ao antigo presidente do Imortal e do Farense, o inefável Fernando Barata, em que tudo servia para achincalhar os sucessos internacionais do clube azul e branco (nessas ocasiões, o bacoco patriotrismo em torno das equipas portuguesas desaparecia misteriosamente). Ou daquela entrevista famosa ao vosso ex-presidente Santana Lopes que dizia saber tudo sobre a corrupção no futebol (como uns jantares em Canal Caveira…) mas, que se saiba, nunca fez queixa de nada. Ou das entrevistas com o antigo presidente Dias da Cunha que persistentemente se queixava do sistema, mas que igualmente jamais se moveu judicialmente.

E se, de facto, apelarmos à memória, então recordar-me-ei de presidentes como João Rocha ou do fugitivo Jorge Gonçalves (Bigodes), que parece estar agora preso em Angola. Lá no fundo do baú tenho as 4 vezes consecutivas que Lucílio Baptista apitou o Sporting-Porto, sempre prejudicando o Porto (o rol é tão grande que não o vou enumerar), ou a bola que Ricardo defendeu bem dentro da baliza no ano passado contra o Leiria (sem que o actual presidente pedisse para se repetir o jogo por questões de fair-play...), ou a vitória em Alvalade quando o Robson era treinador dos dragões em que tivemos que marcar 2 golos para ganhar 1-0, ou ainda da final da taça vencida em Lisboa (como sempre, para beneficiar o Porto, está claro!) em que os Sportinguistas pouco satisfeitos apedrejaram tudo (inclusivamente a ministra Manuela Ferreira Leite que, imaginem só, é irmã de Dias Ferreira, conhecido sportinguista!), e tantas outras histórias pouco elitistas e nobres, ainda que ligadas ao clube de Alvalade. Ah! E, já agora, o único jornalista desportivo do Público que conheço pessoalmente, acreditem ou não, é sportinguista.

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sexta-feira, setembro 29, 2006

Erotismo Bíblico

Por causa de tudo isto, lembrei-me desta passagem bíblica:

"Meu amado passou a sua mão pela fresta
e as minhas entranhas estremeceram por ele."
Cântico dos Cânticos, 5:4. Antigo Testamento

Meus amigos, já chega. Tudo tem limites. E sinceramente, desta vez estão mesmo mesmo a exagerar com as delicadezas.
Qualquer dia não podemos dizer que o nosso primeiro rei conquistou Lisboa aos Infieís ou (pior!) que um benfiquista é um mouro, sem medo que nos exploda algum Tarik Sektioui em cima.
Vamos lá a ter tino que isso do Mozart e companhia é coisa para ser muito respeitada, tanto ou mais que o Corão ou o primo do Quim.

(Ah! E para que os perigosos radicais cristãos não pensem que estou a fazer más interpretações da palavra bíblica, a citação acima significa tão só que os muçulmanos estão a abusar "passando a mão pela fresta" e que nós ocidentais (cristãos, ateus ou judeus) temos as "entranhas a estremecer" de medo, por causa dos ataques bombistas.
Só isso, ok? Nenhuma malícia...
Nada de bombas, óh radicais cristãos!)
brrrr!

máxima oriental

Numa saga interminável, Cristina Santos no blog "A Baixa do Porto" vai tentando catequizar os portuenses através da famosa técnica "Dá uma no cravo, outra na ferradura", post após post. Todas as decisões de fundo da actual edilidade são sempre glorificadas, compreendidas ou desculpadas, enquanto, aqui e ali, lá se solta uma crítica levezinha, actuando como num baloiço para meninos da primária: a cada movimento para trás, segue-se um empurrão mais vigoroso para a frente.
Noutros casos, em que a teimosia assim obriga, repete-se infindavelmente o mesmo erro, a ver se o chumbo flutua na água.
Mas, minha cara (Doutora? Engenheira? Arquitecta?), uma conhecedora tão profunda da cidade e de todas as acções da edilidade, numa tão estreita sintonia entre o sentimento do comum cidadão e a mais pequena intenção de Rui Rio, deveria refreá-la a escrever frases como: "a cada quezila que originamos vamos ficando para trás no desenvolvimento" ou "O que está feito pode ser corrigido, o que não está feito não existe".
Aquilo a que chama quezílias surgem precisamente da ausência de discussão pública sobre a linha da Boavista, da imposição ditatorial de uma solução que visou acima de tudo responder aos sonhos de menino Rio que queria uma corrida de pópós na Avenida. Tão só!
E além disso, deixe-me que lhe diga. Se alguém quis quezílias ao longo destes últimos cinco anos foi precisamente o actual presidente da câmara, com a Ministra da cultura, com o Futebol Clube do Porto, com o Bolhão, and so on...
E quanto a essa máxima de provável inspiração oriental: "O que está feito pode ser corrigido, o que não está feito não existe", não se aplica seguramente nem ao Jardim da Cordoaria, nem à Avenida dos Aliados, em que o que está feito de mal, destruiu irreparavelmente o que existia bem (ao qual faltariam apenas alguns retoques).
Aplicar-se-á, isso sim seguramente, à inexistência de oferta cultural identitária da cidade, que, num total adormecimento, nem comemora o aniversário da morte de Almeida Garrett ou de Aurélio da Paz dos Reis, entre tantas outras ausências.

Aritmética

Tudo isto seria imensamente mais divertido se, em vez do aborrecido, digno e imperturbavelmente sério Sócrates, lá estivesse o canastrão do Santana. Mas, ainda assim, não deixa de ter muita graça. Quer a fotografia negligé, quer as intrigantes palavras: "Rompiendo el bloqueo. Venezuela se respeta!", quer ainda a macia abordagem dos media, quando comparada com o que seria se o filósofo fosse outro.
Não haja dúvida, através de uma operação simples obtemos:







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quinta-feira, setembro 28, 2006

Parabéns, Futebol Clube do Porto!

Imagem retirada do livro "Era uma vez um Dragão" de Manuel Dias e Artur Correia
Há 113 anos, nascia o melhor Clube da galáxia: o Futebol Clube do Porto! António Nicolau D'Almeida dificilmente imaginaria o colosso que acabara de criar. Foram 113 anos inesquecíveis - e eu só cá estou há 28!

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quarta-feira, setembro 27, 2006

A pergunta que se impõe

Ele foi eleito para se governar ou para nos governar?
Pelo que ouvimos dizer, o nosso primeiro-ministro gasta(-nos) 219000€ em telemóvel por ano, ou seja, se estiver ininterruptamente a fazer chamadas durante um ano, paga qualquer coisa como 0,42€/minuto. E tudo porque ninguém o aconselhou a visitar esta página! Santa incompetência!

terça-feira, setembro 26, 2006

O meu olhar é nítido como um girassol...

"if you kiss me
before the harvest
I´ll surely dry
and if you pick me for last
I’ll surely die..."

Lads

Quatro meses depois, um girassol para ti, porque me (es)colheste no momento certo. Posted by Picasa

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segunda-feira, setembro 25, 2006

Depois da tempestade

Mesmo depois da tempestade, junto àquela janela, na quinta-feira, ao princípio da noite.


"sigo o caminho de areia que desliza
entre o rochedo e a duna
a chuva de Verão chove sobre a minha vida
sobre mim a minha vida que me foge e persegue
e acabará no dia em que principiou

amado instante agora que o contemplo
na cortina de bruma que vai cedendo o passo
onde não mais pisarei estes longos solos movediços
e viverei o tempo de uma porta
aberta agora fechada depois
"
Beckett, Samuel (1970) Poemas 1937 - 1949

E tudo parece sereno.
Apenas quando semicerro a boca seca sinto algum estremecimento cá dentro, vagueando pelas vias e veias, pelas artérias e ruas que constroem o miolo do meu âmago.
Lá fora, o espelho húmido reflecte o mais profundo dos chãos e deixa-se escorrer, limpando as folhas que restam da estação que passou, entre a placidez e a pacatez dos sons cristalinos da água.
Mesmo a ligeira brisa que perpassa aqui e além, entre momentos de quietude, é calma e tranquila e acompanha solenemente as últimas réstias de luz que sobram como as folhas do chão, como se fossem um último suspiro sem força, uma nova esperança de vida.
Mas brevemente a noite cairá. Mansa e terna. Pedaço de papel em branco à espera de ser escrito, escrevinhado, rabiscado, desenhado, sob um céu escuro de sombras.
Enquanto as primeiras candeias se acendem, dentro de mim, o tráfego acalma, na tranquilidade amorfa das horas depois da hora de ponta, chapinando de água os edifícios que ergui, no tempo que agora finda.
Passo após passo, tic após tac, a serenidade adormece-me até ao primeiro rebento da palmeira.
_____________

P. S. 1 - Faz lembrar o Abílio (Ex-FC. Porto, Leixões e Salgueiros. Alguém se lembra?), um rei sem trono ou Le God sem Olimpo. Dedicada à série "Faz Lembrar..." do Maradona e, obviamente, a Matthew Le Tissier (via Curva).
P. S. 2 - Também temos um ciclame igual a esse cá em casa. Mas uma maldita lagartixa divertiu-se à grande e à francesa com as suas suculentas e coloridas flores... Agora está em quarentena. Más notícias, infelizmente, essas que nos trazem.
P.S. 3 - Aqui termina a trilogia (1, 2, 3).

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domingo, setembro 24, 2006

Baptismo

Hoje fui peixe, fui golfinho. Mergulhei, respirei dentro de água, ganhei barbatanas. Nadei, rodopiei, brinquei... soube finalmente o que era ser uma criatura do mar. E tudo graças à MergulhoMania. Que boa maneira de começar a semana!
P.S. - Muito obrigada, Toné! Se não fosses tu, nunca na vida tomaria a iniciativa de experimentar. Valeu mesmo a pena, e o curso de mergulho começa a ser hipótese.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Antes da tempestade.

Mesmo antes da tempestade, junto àquela janela, ontem, ao final da tarde.

"It was nine o'clock when we finished breakfast and went out on the porch. The night had made a sharp difference in the weather and there was an autumn flavour in the air."
Fitzgerald, F. Scott (1925) The Great Gatsby

Mesmo antes da agitação chegar, senti-o pulsar frenético, num último esgar descontrolado, naquela sensação de crescente asfixia à medida que a temperatura aduba o mercúrio.
Nestes momentos, em que a voz tirana se sente mais forte e o temor pelo que aí vem se acentua a cada instante, instala-se usualmente, num canto soturno do meu cérebro, aquela fina e maquiavélica pontada de dor, que é exponenciada por esse esbracejar incontrolado, esse último fôlego desesperado.
Impelido por uma vontade hipocratiana sem sentido, espero, com as minhas débeis forças físicas e as minhas ridículas voracidades mentais, salvar aquele que está condenado, injectando soros milagrosos, apertando o peito com vigor, descerrando barreiras impenetráveis.
Eventualmente, ele, tal como todos nós, acabará por morrer, por mais ou menos volta que dê o relógio de corda, despertando de imediato a lenta caminhada até ao próximo desfecho.
Cairá a chuva, soprará o vento, trovejarão os céus retumbantes.
E será sempre assim.

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quinta-feira, setembro 21, 2006

A tempestade

De lá de fora, cá para dentro, entre o jasmim e as violetas, depois da tempestade.


"Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra."
A Tabacaria (15-01-1928) Álvaro de Campos.

Ficaste a dormir no quarto escuro, enquanto fui ver a tempestade.
Impelido pela memória dos trovões (que foram sempre o meu quebrar das águas profundas!), empurrei-me para o vidro entre as frestas, sabendo que no espelho não podia ser visto.
Pela janela, a luz da penumbra invadiu o quarto e anunciou a turbulência como o velho sino da igreja.
Lá fora, o vento soprava forte e mesmo que os edifícios se mantivessem quedos e em silêncio, havia um tremor e um assobio que perpassava notório, momento após momento, palpitando no meu peito.
Ao longe, a ondulação da árvore e dos seus galhos lembravam-me que ainda estava vivo, encostado à ombreira em madeira, com o meu arfar escrito na janela despida.
Ao primeiro arrepio, enquanto a gata amarela cantava como a sereia e sem que o clarão ribombante tivesse aparecido, apressei-me para o abrigo.
Protegido, contido e imóvel, adormeci a teu lado à medida que o calor aumentava e a pulsação baixava, diminuindo a intensidade do meu estremecimento.
E só por isso chegou a bonança.
E só por isso começa o Outono.

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quarta-feira, setembro 20, 2006

Ouro


A Ilha Grande (São Vítor, Porto), ainda há pouco.

"But we must remember that gold is an uncommon element and that life in the palace or the monastery was an unusual occupation even during the Middle Ages." - Vance, James (1990) The Continuing City.

Desta janela de onde escrevo,
por vezes,
os pássaros
parecem não ter asas.

P.S.1 - Pois é,
Francisco. Também acho isso uma injustiça e uma imoralidade, sem nunca entender verdadeiramente porque é que essa regra nunca foi alterada. Não sei se já o fizeste, mas eu acabo por usar o tecto 10, ainda que a oral tenha sido impecável. Acabará, provavelmente, por ser da mesma forma injusto e imoral... haverá outra solução? Entre tanta insensibilidade no meio, é bom encontrar quem sinta o mesmo.
P.S.2 - Parabéns ao Estado Civil e obrigado por tudo o que nos tem oferecido, entre e. e. cummings, Morrissey ou Neil Hannon.

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terça-feira, setembro 19, 2006

Do frogs exist there too?


Foi numa viagem de trabalho à República Checa que ouvi falar pela primeira vez em Jan Neruda, escritor checo do Século XIX, que deu nome a Pablo Neruda e a uma das mais deslumbrantes ruas de Praga. Pareceu-me excessivo tentar lê-lo em checo (até porque zmrzlina e palacinka são as únicas palavras que conheço), por isso decidi deixar essa descoberta para o regresso. Apesar das dificuldades em encontrar material, deixo aqui este poema da obra Písně kosmické (Cosmic Songs):

Frogs sat around a puddle
And gazed at heavens high
Frog teacher pounding into skulls
The science of the sky.

He spoke about the heavens
Bright dots we see there burning
And men watch them, "astronomers"
Like moles they dig for learning.

When these moles start to map the stars
The large becomes quite small
What's twenty million miles to us
They call one foot, that's all.

So, as those moles did figure out
(If you believe their plan)
Neptune is thirty feet away
Venus, less than one.

If we chopped up the Sun, he said
(Awed frogs could only stare)
We'd get three hundred thousand Earth's
With still a few to spare

The Sun helps us make use of time,
It rolls round heaven's sphere
And cuts a workday into shifts
"Forever" to a year

What comets are is hard to say
A strange manifestation
Though this is not a reason for
Some idle speculation

They are no evil sign, we hope
No reason for great fright
As in a story we got from
Lubyenyetsky, great knight

A comet there appeared, and when
It rays were seen by all
The cobblers in a tavern
Began a shameful brawl

He told them how the stars we see
So many, overhead
Are actually only suns
Some green, some blue, some red

And if we use the spectroscope
Their light tells, in addition
Those distant stars and our Earth
Have the same composition

He stopped. The frogs were overwhelmed.
Their froggy eyeballs rolled.
"What more about this universe
Would you like to be told?"

"Just one more thing, please tell us sir"
A frog asked, "Is it true?
Do creatures live there just like us
Do frogs exist there too?"
(tradução de D.P. Stern)

Small steps

Às vezes, o que parece um pequeno passo para os outros, é um passo de gigante para nós. Mas passo a passo se constrói o futuro, e o teu, amiga, será sorridente!

Hooliganismo.

Ainda há pouco, no puff dela!



Foi bonita a mobilização da blogosfera à evocação a esse Setembro devastador de há dez anos atrás.
Usualmente, no que se refere a massacres, Setembro estará para sempre associado ao número 11, quer pelo que se passou no Chile, quer pelo que se passou nos Estados Unidos da América.
Mas não poderemos esquecer jamais um outro 11 que foi violentamente derrotado, no dia 18 de Setembro de 1996. Ainda assalta alguma emoção ao mais profundo do meu âmago, sempre que revejo aquelas imagens. Nós que assistimos em directo, no estádio ou na televisão, a essa demolidora aniquilação, povoada de arrepiantes e inesquecíveis imagens de desânimo e desespero, tanto pelas vítimas no campo de batalha, como pela voz embargada dos comentadores televisivos, não deixamos, ainda hoje, de sentir algo diferente, uma memória que não se apaga, como uma vela que persiste em arder.
E é por isso que deixamos aqui a canção "Always look at the bright side of life". Porque é preciso sempre acreditar! Porque, apesar do massacre, apesar do festival de bola a que assistimos, todos lutaram e acreditaram até ao fim. Bem... todos, todos não. O Dimas lá acabou por dar o braço a torcer mais cedo. Mas foi o único.

P. S. - O processo certo na metamorfose esperada.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Golden Lights

Aditamento ao projecto a que se refere o R.E. n.º460 para a construcção de dois prédios que o Snr. Ayres Marques Ferreira deseja mandar fazer. Aprovada. Porto em Câmara. 17 de Junho de 1926.

"Fame, Fame, fatal Fame
It can play hideous tricks on the brain
But still I'd rather be Famous
Than righteous or holy, any day
Any day, any day"
The Smiths (1986) Frankly, Mr. Shankly - The Queen is Dead

Envolto em loucura imortal, estendo-me à janela como um lagarto ao Sol.
Como se a eternidade se alcançasse através da paralisação da realidade, da evocação de um passado longínquo, da leitura amplificada dos pequenos meandros onde nos escondemos com medo.
Parti para lá da realidade e caí redondo na imensa espiral do esquecimento. Eu, tu, eles. Partimos todos.
A árvore intemporal da genética apodreceu hoje, regada em demasia e excessivamente exposta ao Sol.
Foi-se.
(link apenas para assinantes do "Público". Não assinantes só têm direito a isto!)

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sábado, setembro 16, 2006

The party is here!

Deixa-me só procurar uma pastelaria aberta para levar uma sobremesa. Ali ao lado, os membros do meu Eixo favorito fazem uma mega-festa, e não queremos chegar atrasados. E no meio de uma imensa saudade, roubo ao Pedro Homem de Mello algumas palavras que deixo à PCFC:

No meio da claridade
daquele tão triste dia
grande, grande era a cidade...
e ninguém me conhecia!...

Rostos, carros, movimentos,
traziam noite e segredo.
Só eu me sentia lento,
e avançava quase a medo...

Só a saudade da Pátria
longínqua me acompanhava!
Quisera voltar à serra
e ouvir o vento e a água brava;
[...]
Acordei.
A claridade
fez-se maior e mais fria.

Grande, grande era a cidade...
E ninguém me conhecia!...

Espera por nós que vamos a caminho!

sexta-feira, setembro 15, 2006

Rearvorear


The Cure - Catch

Não sei se foram semanas, meses ou se chegou até a um ano inteiro, mas tempo houve, nas profundezas da minha tardo-adolescência, em que não havia dia que não visse este vídeo, graças a uma cassete vhs guardada na confusão incomensurável de um armário escuro da minha antiga casa.
Ainda anda por lá.
Na minha cabeça, moldada na altura por Gatsby e Dorian Gray, o farol discreto e ao longe, no cabo junto ao mar, a varanda romântica sobre a falésia abrupta ou o encaixe meticuloso entre divisões de uma torre antiga, como uma densa teia de aranha ou um enredo do Eça, encaixavam perfeitamente na suavidade tadziana de Smith e no cenário de vegetação luxuriante mediterrânica que desvenda, em brechas entre a folhagem, imagens da casa estival em ruínas.
E foi aí que entendi que um dia, quando o meu dia chegar, eu não quero reencarnar.
Antes as folhas secas outonais que se pisam em correrias loucas atrás de uma bola entre amigos ou de um beijo entre amantes, num parque relvado ou num jardim em terra.
Antes a lenta secura de uma hera que trepou, em tempos que já lá vão, por uma superfície feérica de gradeamento, no corrimão de uma escada em caracol.
Antes o suave musgo verde que escorre muro abaixo, sugando o suor de quem o ergueu um dia e as memórias de quem o sonhou e há muito desapareceu.
Antes as chamas de um pinheiro bravo que arde desvairado sob o devastador Sol de Agosto, debaixo de um céu vermelho de chamas e raiva.
Mas lá no fundo eu sei, que será numa palmeira que rearvorearei, no topo da encosta sobre uma baía redonda, onde o reflexo das estufas em vidro me alimentará o tronco e a aragem salgada do mar me temperará as folhas e os frutos.
E tudo o que verei, na linha sinuosa do horizonte, será azul.

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quarta-feira, setembro 13, 2006

Algures onde nunca viajei

Hluboká, Républica Checa, Julho de 2006, entre centenas de rosas.
Como eu a vi enquanto viajavas por micro mundos por ali perto.
Entre as pequenas pérolas que diariamente surgem no Estado Civil, os poemas que P.M. tem generosamente oferecido a L. têm-me permitido uma arrebatadora releitura das imensamente suaves composições de e.e. cummings.
Mas é este somewhere i have never travelled, que um dia entrou de rompante em mim através de Hannah and her sisters, que me apetece oferecer-te, a cada gesto teu:

somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully, mysteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands


P. S. - A propósito, já tinha utilizado este título aqui.

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terça-feira, setembro 12, 2006

Pudica Muçulmana



Para que se perceba melhor o encanto destas preciosidades, fica aqui, através dos dedos mágicos da Mica, o bailado sensorial da nossa mimosa pudica sensitiva.
Assim finalmente se compreende, através das palavras surdas da Natureza, o âmago diferencial entre o Ocidente e o Oriente, coincidente com o desaparecido pequeno espaço entre as duas torres.
E tudo terá sido concebido lá atrás, no tempo e no espaço. Consequência absurda de um arrufo entre elas, Sara e Agar, assim que a semente, sempre através do toque, germinou na flor.
A nossa não se encontra, felizmente, apodrecida. Talvez por isso, muçulmana. Então por isso, pudica.

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segunda-feira, setembro 11, 2006

Exéquias

Railroad train, Edward Hopper, 1908

"«Irei!», decidiu.
Descia a Piccadilly, naquele momento, e entrou na Cook para deixar tudo resolvido. Aguardou uns momentos. O homem que o empregado atendia também ia para a Riviera. Dir-se-ia que toda a gente ia para a Riviera. Pela primeira vez na vida, faria o que «toda a gente fazia». (...)
Katherine sentou-se à janela, encantada com a paisagem banhada de sol. As palmeiras, o azul profundo do mar e o amarelo brilhante das mimosas tinham todo o encanto da novidade para uma mulher que durante catorze anos conhecera apenas os tristes Invernos da Inglaterra.
Quando chegaram a Cannes apeou-se e passeou no cais. (...) Pouco depois o condutor veio informá-la de que dali a minutos o comboio chegaria a Nice. (...)
Katherine acompanhou o indivíduo que a chamara e verificou, surpreendida, que a conduzia para um desvio no qual se encontrava uma carruagem do Comboio Azul.
" - in Christie, Agatha (1928) O Mistério do Comboio Azul.

A pequena roseira que sobrevive lá fora, na pequena varanda áurea, ostenta as primeiras folhas amareladas de Setembro. Como um comboio interminável que voa à saída de um túnel, o Verão arrisca-se a terminar sem que o tenha sentido a escorrer por entre o cálcio dos meus ossos ou a seiva das minhas artérias. Em câmara lenta, deixo o meu pescoço rodar sobre o ombro e espreito o tempo estival que passou veloz sem que o tivesse sequer agarrado. Temo que, pela primeira vez desde há muito, a nostalgia do Verão se instale, antes mesmo que a ânsia do Inverno se acomode.
Bem lá no fundo, tudo se resume aos carris e ao movimento lancinante que desliza sobre eles. Velocidade impossível de observação e de tacto, de odores e de paladares entre o azul interminável do céu e do mar, e as pinceladas ocres e tonalidades matizadas, até enevoadas, da areia, da neblina e do ocaso.
Sem tempo nem memória para vestir luto pelo Estio, preparo a minha alcofa para os tempos nebulosos que aí vêm, enquanto confundo a melancolia doce de uma estação de caminho-de-ferro com o paradigma programático de uma qualquer estação do ano.

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sexta-feira, setembro 08, 2006

Diatom art

Genial trabalho de Klaus Kemp, foi através desta "flor de diatomáceas" que comecei a desfolhar o fabuloso micromundo da arte feita com organismos invisíveis a olho nu.
As diatomáceas são algas unicelulares ou coloniais cuja principal característica é a presença de um invólucro de sílica que forma uma espécie de caixa ornamentada. São dos mais bonitos organismos fitoplanctónicos que tenho o privilégio de ver diariamente no trabalho, apesar de no meu microscópio serem mais parecidas com isto:
Desconheço como surgiu a ideia de pegar nas diatomáceas e as arranjar de forma artística, nem sei mesmo quem terá sido o pioneiro, mas a verdade é que quem vê as fotografias que Hilda Canter-Lund e John Lund têm no seu livro Freshwater Algae (de onde foram retiradas estas), dificilmente deixará de se encantar com a beleza invisível que existe em cada gota de água. Mesmo quem, como eu, convive diariamente com estas criaturinhas!

quinta-feira, setembro 07, 2006

Constructivismo Russo

Supremus n.º 58, Kazimir Malevich, 1916
"Os desurbanistas, uma turma muito mais doida, preferiam a dispersão total, propondo a instalação de moradias móveis pelo campo afora e, eventualmente, a demolição de Moscou" - in Hall, Peter (1988) Cidades do Amanhã.
Nada melhor que misturar a têmpera humorística britânica, o planeamento urbano soviético e as traduções adocicadas brasileiras para terminar a noite com um sorriso nos lábios. Malevich e os demais, ainda que interpretados ao som de samba, serão para sempre assim. Olhando lá de cima, cá para baixo, como um satélite, em reproduções imensas de ortofotomapas.
Lá fora, o nevoeiro oculta a paisagem sobre o Douro e a aragem fria lembra a proximidade crescente do Outono. Up above, a imagem lembraria apenas uma difusa pintura nebulosa, desconstruída, disforme.
Amanhã é outro dia.

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Mortífero

Saúda-se o regresso ao activo do Arioplano, e logo com este arranque!

quarta-feira, setembro 06, 2006

E não é que voltou a acontecer!

Inauguração do Estádio do Dragão, 16 de Novembro de 2003.

Será porventura a minha mente tortuosa a imaginar intrincadas teias conspirativas. Será. Mas não deixa de ser estranho que sempre que saem notícias sobre desenvolvimentos, novidades ou implicados no Apito Dourado, as equipas que terão feito pressões ilegítimas no passado jogam, na jornada seguinte, contra o Benfica e os clubes que foram prejudicados jogam contra o Porto.
Isto porque, mais uma vez, esta regra é aplicável para a próxima jornada. Então não é que logo nesta semana, em que Pinto da Costa deixou de ter acusações de crimes de corrupção desportiva activa no malfadado processo, se descobriu que afinal era o Boavista que fazia todas aquelas malvadezas de que tanto se fala...

P.S. - Esta está tão boa que me surpreende que não tenha vindo daqui.

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nem tanto escadas...

Não tenho dúvidas que este foi o post que mais trabalho me deu para compor, quando eu ainda escrevia no Avenida dos Aliados. Saltar cercas, aproveitar furos em redes, sozinho com a máquina fotográfica por nenhures (como eu adoro esta palavra...), entre os antigos trilhos de caminho de ferro, na outra margem. Tudo para apanhar este ângulo.
Isto a propósito do que o Bruno Sena Martins aqui aborda.
Ainda que empurrado pelo meu espírito obsessivo, não deixo de concordar que o esforço que os outros em mim viam como despropositado, desmedido ou desmerecido, sempre me ofereceu esse enobrecimento de propósitos. Masturbação seguramente, mas nobre.

P.S. - Já agora, dois anos depois do tal post, alguma coisa mudou? Ainda a mesma angústia. Há outras ideias por ?

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A promessa mais aguardada.


É esta!

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terça-feira, setembro 05, 2006

Pontapé de saída

Para o meu companheiro de blog, relembrando o nosso pontapé de saída... Posted by Picasa

Mimosa Sensitiva

Esta é a deles. Esta é a nossa!


















Antes e depois do toque, como uma menina mimada que se esconde atrás das saias da mãe!

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Pure and simple just for you...

Lightning Seeds - Pure

Para a minha companheira de Blog.
Um comboio azul, cheio de miosótis... só para ti!

Polvo

Está tudo aqui.

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segunda-feira, setembro 04, 2006

Mica

JRP