Feliz Ano de 2007
Para todos aqueles que nos têm visitado, votos de um ano de 2007 just like heaven. (E, já agora, para todos os demais também!)
Etiquetas: Porto
Another Journey by Train
Para todos aqueles que nos têm visitado, votos de um ano de 2007 just like heaven. (E, já agora, para todos os demais também!)
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Quando era miúdo, todos os meus amigos da escola preferiam o Astérix. Eu não. Ainda que a Bd de Goscinny e Uderzo me fascinasse, a minha preferência sempre foi pelas Aventuras do Tintin.
Inicialmente, foi o espírito de aventura aliado à permanente movimentação geográfica, que viria a tornar-se vital nas minhas escolhas futuras. Depois, a intriga política, as insinuações xenófobas, as referências aos Balcãs, temas sempre aliciantes para a teia suburbana de um adolescente. Mais tarde, a questão psicanalítica, com a estranha relação com o sexo feminino e com o universo tipo Lolita, Dorian Gray ou Tadzio, no caso numa versão chinesa: a criança Tchang.
O tempo, a idade e, sobretudo, as leituras de Serge Tisseron, Benoît Peeters ou Michael Farr ajudaram-me a descobrir os mil e um caminhos de Tintin que, de simples jovem aventureiro, se transformou num estratega político, num motor de apoio aos mais ignóbeis regimes totalitários ou membro da resistência contra os mesmos poderes, e, acima de qualquer outro, num expugnar de segredos, pecados e frustrações do seu autor Georges Remi ou, como se auto-intitulava, Hergé.
Entre tantas possíveis escolhas, optei por colocar, por fugir ao regular formato rectangular, uma vinheta oval, por sinal a última do genial e angustiante álbum: "Tintin no Tibete".
Na busca um tanto insana pela interpretação de cada esboço de Hergé, alguns autores prestigiados enveredaram pela exploração do branco da neve, enquanto busca pela pureza; outros pela densidade pelosa do Yeti, em primeiro plano, centrando a análise na masculinidade; outros ainda em diferentes explicações "ovais", ligadas à busca de Hergé pela sua génese e à ligação materna. Para mim, interessado mas não entendido, para além de tudo o mais que o desenho possa representar, a imagem atira-me para a nostalgia de uma partida sem despedida e para a dor, inocente e pura, de ver partir alguém contra a nossa vontade e que para sempre ficará dentro de nós.
Ora é aqui precisamente que entra a canção. Ainda que eu faça parte do enorme grupo de pessoas nascidas na década de 70 que dos U2 só apreciam os álbuns da década de 80, é curioso verficar (ok... para mim é curioso...) que a minha canção preferida da banda irlandesa seja "Stay (faraway so close)", de 1993. De então para cá, o destino dos U2 assemelha-se premonitoriamente ao final da canção que espero estejam a ouvir:
Three o'clock in the morning
It's quiet and there's no one around
Just the bang and the clatter
As an angel runs to ground
Just the bang
And the clatter
As an angel
Hits the ground
P.S. 1 - este post é adaptado de um outro muito semelhante que escrevi em Abril de 2004, no extinto Avenida dos Aliados.
P.S. 2 - E por falar em génese, origem e ovos, espreitem esta fotografia do Nuno Gonçalves no Porto Daily Photo. Foi ali.
Etiquetas: Banda Desenhada, Psicanálise
"No Porto celebram-se de tal maneira as festanças ruidosas pelo natalicio do mansissimo Jesus, que parece, n'aquelles estrondos de raiva e de algazarra, estar-se commemorando com dissonancias de reprobos, não o nascimento de Jesus, mas sim o nascimento do diabo. Ó Christo civilisador! envia um raio sereno e luminoso da tua graça áquelles garotos, visto que a policia não se importa."
Camilo Castelo Branco (1880) Ecos Humorísticos do Minho.
Noutros tempos, o Porto enchia-se de música, barulho e algazarra nas noites de Natal, logo após a consoada, em práticas e posturas bem diferentes das testemunhadas pelo POS neste belo post da Fonte das Virtudes, retratando as actuais celebrações natalícias em família e recato, sem preocupação pelos problemas que se alastram fora dos nossos lares (em consonância com o que diz a canção dos Catatonia: we're dead from the waist down / We are sleeping on our feet / We stole the songs from birds in trees / Bought our time on easy street / Now our paths they never meet / We chose to court and flatter greed, ego disposability / I caught a glimpse, and it's not me).
A consoada, há cerca de 150 anos atrás, era normalmente preenchida por bacalhau cozinhado de diferentes formas, acompanhado de grelos com ovos estrelados (e nem tanto a clássica ideia do bacalhau e das batatas cozidas, como incontornáveis). A sobremesa era composta pelas clássicas rabanadas, pelos mexidos e pelos bolos de bolina (trio obrigatório!), para além de queijo, nozes, alperces e ameixas de Elvas, figos do Algarve e passas de Alicante, como tão bem nos documentou Alberto Pimentel, sobre meados de XIX. Era também durante a sobremesa que se fazia uma pequena e humilde troca de presentes. A festa havia sido preparada nessa mesma tarde, com a compra dos víveres e dos presentes na feira de São Bento (actual Praça de Almeida Garrett, defronte da estação) e em ruas como a dos Clérigos (na fotografia acima), a de Santo António (actual de 31 de Janeiro) ou das Flores (sobretudo as prendas em ouro, compradas pela burguesia rica e também pelas/para as mulheres do campo vizinho com o dinheiro que haviam amealhado nas vendas dos produtos hortícolas na feira de Natal).
Após a consoada e as deliciosas guloseimas, às vezes concluídas com uma sessão de bisca ou sueca, as ruas da Invicta enchiam-se de gente, uma vez que, por um lado, famílias inteiras visitavam vizinhos e familiares na cidade para brindar fraternamente pelo Natal, e, por outro, pequenos mas barulhentos grupos de adolescentes cantavam de porta em porta, acompanhados de bombos, violas e ferrinhos, à procura de dinheiro, comida e bebida para aquecer o corpo perante a noite fria (e que tanto aborreciam Camilo!).
A noite terminava geralmente de volta ao lar, onde o vinho quente (vinho fervido com mel e ovos) era servido entre dois dedos de conversa.
Sobre estas saudosas práticas escreveu Garrett um dia, lembrando a sua cidade Natal:
Natal da minha terra, que lembranças
Saudosas e devotas
Tenho das tuas festas tão gulosas
E de teus dias santos
Tão folgados e alegres! Como vinhas
Nos frios de dezembro
De regalados fartes coroado
Aquecer corpo e alma
C'o vinho quente, c'os mexidos ovos,
E farta comezana!
Etiquetas: Porto
Entre as muitas canções de Natal que alimentam o nosso espírito mais sentimental, esta canção dos Pogues, com a participação da poderosa voz de Kirsty MacColl, é aquela que melhor consegue disfarçar, no meio de tanta euforia e ritmo folk, o embaraço que nos assola por todo esse derramar de emoções.
Falo por mim. No meio das compras, da confusão das lojas nacionais e internacionais, de embrulhos coloridos e do arfar quente de gente no meio da rua fria e iluminada, vejo-me incontornavelmente tentado em cair na lamechice da quadra. É assim nos passeios apressados nos gélidos finais de tarde em Cedofeita, Santa Catarina ou Passos Manuel, onde, ao contrário dos idílicos centros comerciais, o mundo real convive bem mais de perto, sem rastreio para pobres e desfavorecidos, que lá, nessas suburbanas caixas enormes de gente, dinheiro e ilusão, não podem entrar.
A canção, do final dos anos 80, fala das misérias de dois imigrantes derrotados pela vida, que pelo Natal, renovam os seus votos de esperança e amor, ainda que conscientes da derrota humilhante que o destino lhes reserva.
A dada altura, os dois emocionados protagonistas (Kirsty MacColl e Shane MacGowan) lamentam tudo o que perderam na vida por causa do seu amor, provavelmente a única vitória de ambos, numa vida de agonia:
I could have been someone
Well so could anyone
You took my dreams from me
When I first found you
I kept them with me babe
I put them with my own
Can't make it all alone
I've built my dreams around you
Consta que, no Natal de 1987 em Inglaterra, quando esta canção perdeu o título de "single mais vendido de Natal" para "You are always on my mind", uma versão dos Pet Shop Boys de um velho hit de Elvis Presley (que, por sua vez, era uma versão do original de Brenda Lee), Shane MacGowan terá dito: "We were beaten by two queens and a drum machine."
Não há nada como o bom espírito de Natal.
Etiquetas: Porto
Ultimamente, e por razões que se prendem com o volume de trabalho, a proximidade do Natal e uma desinspiração global, o ritmo de posts tem baixado. Talvez por isso, uma vez que simplifica o processo criativo e vai mantendo a chama acesa, inicio a série "Grandes Vinhetas".
De há muito que o mundo da Bd me encanta, em particular o da escola franco-belga. Criadores como Hergé, Franquin ou Goscinny povoaram a minha vida de ambientes distantes, apelativos ou esteticamente encantadores, preencheram a minha imaginação de tramas e mistérios e adicionaram um conjunto interminável de gargalhadas sonoras aos silêncios profundos que a leitura proporciona.
Nunca entendi a desvalorização em torno da Bd, tida como infantil na generalidade ou resumida muitas vezes ao mundo de Astérix e da Marvel, para os mais velhos. Incompreensível em meu entendimento. Quer porque o mundo Marvel sempre me pareceu muito mais infantil que qualquer outro, quer porque Astérix é apenas um, entre muitos outros (e longe de ser o melhor), que se incluem no velho slogan da revista Tintin: "Dos 7 aos 77".
À minha escolha do dia, resolvi adicionar a canção Ernold Same dos Blur, que me parece apropriada ao tom do narrador, no caso o genial Franquin: "Ao fim da tarde, as ruas enchem-se de pessoas indiferentes e melancólicas... caminham curvadas e com o olhar cansado pela rotina..."
A vinheta retrata bem a época em que foi desenhada, 1956, e o ambiente frio, anónimo e distante dominado pelas cores azuladas e escuras, ainda que agitado pelo movimento dos corpos e dos veículos, ao final de mais um dia de rotina, numa qualquer cidade da Europa Ocidental.
Sensações:
1 - O lamento pelo encerramento de um dos 5 melhores blogs de 2006 - o Perguntar Não Ofende.
2 - A surpresa pelo facto do João Miranda do Blasfémias ter uma informação diferente daquela que demos no post anterior sobre a próxima leitura do novo Procurador Geral da República.
3 - A saudade graças à evocação de uma velha canção dos Waterboys que, em tempos idos, fazia parte da minha playlist habitual, no Campaínha Eléctrica.
4 - A alegria por mais um post genial do Cromos da Bola, neste caso alusivo ao "responsável pelo golpe de estado de 1966 nos Barbados" - o Professor Neca.
5 - A tristeza por não poder ripostar ao excelente vídeo colocado pelo Pos na sua Fonte das Virtudes. A minha intenção era responder com o primeiro desenho animado a cores feito pela Disney, intitulado "The band Concert", que episodicamente aparecia como queima-tempo entre programas na RTP1 da década de 80, enquanto eu lanchava sentado no velho sofá vermelho da minha avó 'Meralda, na ilha do Padeiro, e aguardava pelos Marretas que passavam ao final da tarde. Malogradamente, a Disney proíbe a sua presença no You Tube...
6 - E, finalmente, a nostalgia pela lembrança do Aníbal Letra no Fêcêpê: Orgulho e Glória dos relatos do Gomes Amaro que, coincidentemente, antecediam os lanches referidos no post anterior. Outros tempos.
Etiquetas: Banda Desenhada, Psicanálise
Por trás da muralha gótica, que se estica em promontório sobre o rio, a cidade, em equilíbrio precário, parece segura na escarpa dos Guindais às Fontaínhas. E foi sempre assim. Subúrbio negligenciado, de pobres, pescadores e marinheiros, das pequenas viagens pelo Douro à cata da carqueja e da lenha, acartadas pelas senhoras agrestes de outros tempos, para alimentar o forno que produzia o pão da tropa.
Ali se fixaram os mal-aventurados da vida, no espaço que Arnaldo Gama (que agora sobrevive numa estátua precisamente no topo dos Guindais, junto ao Largo Actor Dias) dizia ser: "habitado por quem não tinha que perder", entre a muralha que os tornava marginais e a velha Quinta do Fragoeiro que os esmagava pela opulência dos antigos proprietários – a família Cirne.
Em nenhum outro lugar a derrota é tão gloriosa, porque apesar das contingências geográficas de permanente sobressalto pelas derrocadas frequentes do edificado ou pelo muro separador de granito do século XIV, ninguém tem uma vista tão bela sobre a ponte Luís I e sobre o rio dourado.
Em nenhum outro lugar, depois da dramática queda do antigo elevador dos Guindais na transição do século XIX para o século XX, outro se ergueria tanto tempo depois. O novo funicular, dito dos Guindais, é de todos menos de quem lá habita, uma vez que une a Ribeira à Batalha, sem paragem que beneficie quem vive no bairro que lhe dá o nome.
Tudo restaria para que os Guindais fossem o lado negro da cidade esbelta a ocidente da ponte Luís I, uma espécie de Mr. Hide do Dr. Jekyll Património Mundial. Mas não é assim. A escarpa dos Guindais, como agora se pode ver da ponte do Infante em tardes como aquela, é tão encantadora como o lado fotogénico do Porto, tão graciosa como o vale do Rio da Vila entre a Vitória e a Sé, tão genuína como cada peça mágica do centro histórico que, ruído de inveja, parece até espreitar sobre a muralha, nos picos elevados da torre dos Clérigos e da Sé, como que a vigiar a irmã feia da família que encanta os mais refinados cortejadores.
A dada altura da canção (que por esta altura já devem estar a ouvir se tiverem accionado o leitor no botão acima), Morrissey, compositor que como ninguém ironiza com o lado negro da vida, suspira em tom de alento: "Losing in front of your home town / The crowd call your name / They love you all the same". Entre todo o encanto que a minha cidade possui, é a sua capacidade de perdoar as nossas derrotas que mais me comove.
A ler:
1 - Sobre o tema da semana:
1.1 - Textos que esclarecem precisamente o que eu penso:
a) Este de Bruno Martins no Avatares de um desejo.
b) Ou este de Tiago Ribeiro no Kontratempos.
1.2 - Esta citação de Vasco Pulido Valente no Blasfémias.
1.3 - E agora, uma graçola... Depois de terminado o livro que o Procurador Geral da República anda a ler, Pinto Monteiro dedicar-se-à à leitura deste blog Denunciar Pedro Abrunhosa.
2 - Sobre Rio, Rivoli e Cultura:
2.1 - Este texto de João Paulo Sousa no Da Literatura.
2.2 - o humor corrosivo de João Miranda no Blasfémias.
3 - Duas más notícias:
3.1 - Sobre a incapaz arborização no Porto, no Dias com Árvores.
3.2 - Sobre o fim de um excelente programa - Livro Aberto - de Francisco José Viegas. Não falharei o último, como aliás não perdi o equivalente do ano anterior.
4 - Mais uma fabulosa pergunta no Perguntar Não Ofende.
5 - Este post de Manuel Jorge Marmelo, alusivo a um dos meus filmes de eleição - Blow Up - no Tatarana.
6 - Este post de A Sexta Coluna, onde finalmente se descobre (era mistério, não era? Ou só eu é que não sabia?)) o nome verdadeiro do incisivo e divertido Maradona (por falar nele... tem falado pouco de futebol, não tem?).
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"Aos Carlos chamamos Carlitos, e eu quero falar de um Carlitos que regressa ao Chile depois de vinte anos de ausência. Abandonou o país quando tinha sete anos e realmente não se queria ir embora, não queria entrar para o avião, também não queria ser amável com o senhor do ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, que o acompanhava a ele e à mãe, protegendo-os dos olhares de ódio que lhes lançavam os soldados, sobretudo à mãe, sobrevivente de um centro clandestino de torturas chamado Villa Grimaldi.Assim escreveu Luis Sepúlveda sobre o filho Carlos, no comovente "O General e o Juiz". Os milhares de chilenos que, como ele, sofreram nas garras de Pinochet, não terão direito a ver este monstro julgado. Agora que a justiça dos homens falhou de forma tão cobarde, resta-nos acreditar na divina. Soube-se pela televisão que um padre já lhe teria dado a extrema-unção, o que só vem mostrar mais uma vez que não há instituições incorruptíveis. Acreditaria o general que comprando o perdão de um qualquer padreco, compraria a entrada no paraíso?
[..] Antes de entrar no avião, um oficial dos serviços de espionagem militar entregou-lhe o seu primeiro passaporte. Na primeira folha havia uma misteriosa letra "L" e uma inscrição: "Documento válido para todos os países menos para regressar ao Chile." De modo que o Carlitos, aos oito anos, se juntou à fraternidade universal dos exilados.
Era Carlitos um tipo perigoso para a ditadura de Pinochet? Talvez. O padre e director do Colégio Salesiano onde estudava garantiu que nunca ouvira dele discursos subversivos, mas que as suas repetidas ausências às aulas de religião o convertiam num suspeito. Além disso, Carlitos tinha dado provas de firmeza diante dos militares. Quando, em 1973, prenderam o pai, tranquilizou a mãe jurando-lhe que este sairia vivo porque estava sob a protecção de Sandokan. Três anos mais tarde, quando prenderam e fizeram desaparecer a sua mãe, não chorou diante dos soldados. Enfrentou-os avisando-os de que sobre eles cairia todo o poder da Confederação Galáctica."
Depois de uma longa ausência da blogosfera, o ritmo de Natal permite-me finalmente tempo para revisitar velhos conhecidos e criar uma nova estação nesta viagem de comboio. Na imagem podem ver as grandes vilãs "vestidas" para a fotografia. Não se deixem iludir pelo aspecto cândido das criaturas cujas colónias podem assumir formas tão variadas e inofensivas como o patinho ou a girafa que vemos acima. Trata-se de uma das cianobactérias mais assustadoras das nossas águas, capaz de dizimar multidões sem mostrar remorsos. Fixem bem este nome: Microcystis. E por amor de Deus, não se metam com ela!
(A música é só porque I'm waiting for my man, ou seja, estou à espera que o JRP acabe o trabalho, e apetece-me dançar...)
A árvore artificial que, todas as noites, Gaia oferece ao Porto para o fazer corar de inveja, incendeia as almas daqueles que a procuram. A luz cintilante reflecte a inusual escuridão da igreja dos Clérigos. Pela primeira vez apagada em Dezembro, a torre dos Clérigos envolve-se num manto vermelho de rubor pela ousadia da sua jovem opositora.
Na outra margem, o cone arbóreo desafia as leis da gravidade em dias de temporal, prostrando-se na fronteira da cidade que a ergueu. Dali, enfrenta o Porto de frente, olhos nos olhos. E encara o céu com coragem, de cima para baixo.
Naquele lugar, a árvore mais do que apreciada por quem a pagou (e apagará...), é bastião sólido contra o inimigo do outro lado do rio, e é tão encantadora como cínica, tão reluzente como sombria.
Vista desta perspectiva, a silhueta do horizonte tem, cada vez mais, um ritmo cardíaco acelerado e as peças simbólicas do homem, como em qualquer jogo de xadrez, são cada vez mais desonra que dignidade.
E o mundo vai.
Gostei de ver/ler/ouvir:
1 - Este comentário de Eduardo Pitta ao que eu havia escrito no post anterior. Obrigado pela participação, sobretudo vinda de alguém que leio sempre atentamente.
2 - Este texto no Abrupto (anteriormente publicado no Público). Tenho sempre um certo prazer quando alguém da geração que intitulou a minha de rasca, se apercebe das falhas e omissões da sua. Esse prazer terá seguramente algo de revanchista, por um lado. Por outro, representa também uma certa inveja da minha parte.
3 - Este vídeo dos X-Wife (banda portuense de que faz parte um amigo de longa data. Um abraço, Rui!) no Bisca dos Nove. De há muito que eles merecem o céu.
4 - A boa música que continua a ser apresentada no Daedalus.
5 - Este abaixo-assinado no Futebloguês. Hilariante!
6 - Esta fotografia no Não sei pra mais. Como sempre, fenomenal!
7 - Esta pergunta no Tomar Partido. Não que me importe muito, mas não era para ter sido no dia 1 de Dezembro?
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