Tudo o que eu não queria
Um Rio te Espera
Estás só, e é de noite,
na cidade aberta ao vento leste.
Há muita coisa que não sabes
e é já tarde para perguntares.
Mas tu já tens palavras que te bastem,
as últimas,
pálidas, pesadas, ó abandonado.
Estás só
e ao teu encontro vem
a grande ponte sobre o rio.
Olhas a água onde passaram barcos,
escura, densa, rumorosa
de lírios ou pássaros nocturnos.
Por um momento esqueces
a cidade e o seu comércio de fantasmas,
a multidão atarefada em construir
pequenos ataúdes para o desejo,
a cidade onde cães devoram,
com extrema piedade,
crianças cintilantes
e despidas.
Olhas o rio
como se fora o leito
da tua infância:
lembras-te da madressilva
no muro do quintal,
dos medronhos que colhias
e deitavas fora,
dos amigos a quem mandavas
palavras inocentes
que regressavam a sangrar,
lembras-te de tua mãe
que te esperava
com os olhos molhados de alegria.
Olhas a água, a ponte,
os candeeiros,
e outra vez a água;
a água;
água ou bosque;
sombra pura
nos grandes dias de Verão.
Estás só.
Desolado e só.
E é de noite.
Eugénio de Andrade (1990) Coração do dia
Etiquetas: Porto
5 Carruagens:
Palavras para que?! Uma vez mais me delicias com uma foto deslumbrante, com uma das minhas musicas preferidas e com um poema lindo.
So' espero que o dia amanheca risonho para ti. Vai dormir que ja' e' tarde! ;-)
Boa composição conjugada...
PORTO, 2007.08.09
VIVA.
Sou contra o Porto em algumas coisas. Mas no seu espaço nada a opôr. Cinco estrelas. Os meus parabéns. Entendo que é de continuar.
Gostei.
SB
Eu continuo a dizer que o nosso (grande) Porto é uma cidade muito, mas mesmo muito fotogénica!
Obrigado pela vossa simpatia.
SB,
Contra o POrto? Em quÊ?
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.
<< Home