sábado, julho 28, 2007

Grandes Vinhetas # 17

Retirado de "Humpá-pá - Missão Secreta" (1960) Goscinny/Uderzo.

The Thrills - One Horse Town

Antes da criação de Astérix para a revista Pilote em 1959, Goscinny e Uderzo haviam já criado 3 heróis. Tudo havia começado quando casualmente foram colocados lado a lado na delegação de Paris da World Press em 1951, despoletando uma das duplas mais profícuas e cativantes da BD da segunda metade do século XX.
Dessas três personagens, de pouco sucesso sublinhe-se, a mais popular foi Humpá-pá, um nativo americano dos Sávanás, sempre acompanhado do seu amigo Humberto da Massa Folhada, oficial francês incessantemente de peruca branca.
A trama decorre no século XVIII, durante a colonização francesa da América, nunca atingindo porém o brilhantismo, o humor e sobretudo a popularidade de Astérix, Obélix e companhia, ainda que o traço de Uderzo mantenha a qualidade que o celebrizou ao longo da série daqueles que “apenas temem que o céu lhes caia em cima”.
Mas, como os últimos álbuns de Astérix com Uderzo a solo o provam (desde a morte de René Goscinny a 5 de Novembro de 1977), o sucesso da irredutível aldeia gaulesa residia sobretudo na assinatura de Goscinny, que conferia ao texto o ritmo inebriante e a trama irresistível que fizeram de Astérix e Obélix ícones de gerações atrás de gerações, nas últimas cinco décadas, um pouco por todo o mundo. E esse ritmo, esse encadeamento de episódios hilariantes na sua riqueza contextual ou no mais puro gag Chapliano, assoma também com frequência nas aventuras de Humpá-pá, justificando em absoluta a sua leitura em bibliotecas ou a compra em alfarrabistas, nas edições da Livraria Bertrand ou da Meribérica/Liber. Sem jamais deixar de caricaturar as duas formas de estar, leia-se índios nativos americanos versus sociedade francesa setecentista, Goscinny (auxiliado pelo grafismo vivo e familiar de Uderzo) aproxima os dois pólos antagónicos com a imensa e fiel amizade entre Humpá-pá e Humberto da Massa Folhada, mas, ao mesmo tempo, com as inúmeras confusões e mal-entendidos que a sobreposição dos dois contextos acaba por criar.
As duas vinhetas acima, retiradas de um álbum que faz parte de uma trilogia (Piratas/Missão Secreta/Contra os Maus-fígados), foram originalmente publicadas na incontornável Revista Tintim em 1960 e apresentam uma dessas infindáveis barafundas entre as duas realidades, no caso aplicada à língua ou, melhor dizendo, à forma de se expressarem as duas personagens.
E é nesta dialéctica, da diferença e do contraste, que os dois mundos se aproximam, sem bons nem maus colectivos, mas com boas e más sementes em ambas as margens do oceano.
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Leituras:
1 - Sobre o tema: "Fusão Porto/Gaia", ler
este texto do Taf no A Baixa do Porto e este do Pedro Olavo Simões no Fonte das Virtudes.
2 -
Este post do Carlos Romão, no Cidade Surpreendente.
3 -
Este tratado no De Rerum Natura, de Palmira F. Silva.
4 -
Esta descoberta no Solas na mesa.
5 -
Todos os textos do *

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2 Carruagens:

Blogger Ricardo António Alves said...

Grande vinheta, por Deus!

domingo, julho 29, 2007 12:51:00 da tarde  
Blogger solas_na_mesa said...

umpa-pá! li , reli e voltei a ler esses livros quando era catraio!

mais uma bela lembrança, parabéns!

segunda-feira, julho 30, 2007 1:38:00 da tarde  

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