Debaixo da ponte
A Ponte das Parcas
certa vez morri suspenso na ponte de d.luís
com a angústia da noite atravessada na garganta: a certa certeza
é que (depois) a luz desmantelou os enigmas
com a crueza da cor e por isso se diz que a luz é um mistério.
morri de outra vez na rua de belmonte com a pide nos calcanhares
mas só mais tarde descobri em palmela a rua de nenhures.
no tempo dessa morte havia o turno da noite
que castrava as palavras e o medo era a alma.
ah!: e também morri outra noite no abandono dos aliados
com o néon dos ciúmes a atazanar-me os olhos.
a contabilidade das minhas mortes
usa o norte dos desassossegos quando a noite
é má conselheira entre o álcool do rio
e a mesa de cabeceira.
durante o dia suponho que uma vez morri
(faz tempo) entre o pânico e a esperança com a pressa
terrível das salvações - sempre assim morremos
porque as barcas nunca suportaram os sentimentos.
por isso aprendi nos séculos
que menos tememos a morte que os medos.
lição destas coisas:
entre porto e gaia
(entre a margem e a margem)
de morte em morte se faz a aprendizagem.
Nuno Rebocho (2002) Cantos Cantábricos.
Etiquetas: Porto
4 Carruagens:
Belo poema, JRP. A foto foi tirada da Muralha Fernandina? Abraço.
Não, José Eduardo. Foi do lado de Gaia, junto ao jardim. A muralha está na outra margem, por trás do metro em movimento. Vê-se mal porque não está iluminada, mas está lá!
Sim, de facto é verdade. A ponte sobressai muito e bem, daí não ter percebido o local donde a fotografia foi tirada. Ia até perguntar num outro comentário se tinha sido tirada do interior do funicular, mas também não poderia ser porque á noite não circula. Mas agora já vislumbro ao fundo a muralha. ;) Obrigado, JRP.
Excelente foto!!!
Por falar em pontes. Vou meter um post; ao lado da ponte;)
abraço,
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.
<< Home