sexta-feira, julho 13, 2007

Grandes Vinhetas # 14

Retirado de "Michel Vaillant - Irish Coffe" (1986) Jean Graton.

Catatonia - Road Rage

Sempre que perspectivei a inclusão de Michel Vaillant na série Grandes Vinhetas, nunca julguei que esta fosse a escolhida. Na minha ideia, a escolha recairia incontornavelmente no n.º 1 da colecção, editado na longínqua década de 50 - "O grande desafio" (1959). Para uma grande parte dos fãs, e também na minha opinião, esse álbum, tão distante no tempo, é de facto de eleição e provavelmente o melhor dos 70 já editados (o último dos quais lançado na passada segunda-feira!). Tem lá tudo o que o autor, Jean Graton, costuma oferecer a rodos: emoção e qualidade no desenho. Mas para além disso, contém, no traço e no ritmo, a espontaneidade e a imaginação natural de quem começa uma carreira que se viria a revelar brilhante, ainda que, por vezes, determinados álbuns se tornem um pouco repetitivos, dada também a limitação temática. Mas para além da frescura e novidade que esse álbum trazia, é aí que pela primeira vez conhecemos Michel, Jean-Pierre e restantes membros da família Vaillant, e também Steve Warson, o enfant terrible de grande parte das histórias, eterno amigo desbragado do herói, que aí o conhece e defronta.
A saga da família de construtores e pilotos de F1 não começa, contudo, com o referido primeiro álbum. Ela inicia antes, nas páginas da revista Tintin (Graton, curiosamente, já havia trabalhado para a rival Spirou), como aliás grande parte da BD de qualidade, em 1957 (2 anos antes de "O grande Desafio") com uma pequena história de apenas quatro pranchas com o título "La 24ème heure".
Jean Graton, que entretanto passou toda a responsabilidade do trabalho para o seu filho Phillipe desde 1994, havia sido fortemente influenciado por seu pai, comissário do "Club Motocycliste Nantais", que o levou em tenra idade a ver as 24 horas de Le Mans. É aliás num álbum dedicado a esse evento que devo a minha iniciação nas histórias da família Vaillant: "O fantasma das 24 horas"(1970), oferecido pelo meu pai em 1980.
Hoje, contudo, espicaçado pelo que aqui havia escrito, decidi centrar-me neste "Irish coffee" e em particular na vinheta acima reproduzida.
Desde logo, o álbum é atípico. Michel e Steve praticamente não aparecem durante todo o livro, remetendo para estrela principal Henri Vaillant, pai de Michel e mentor do império Vaillant. Henri é, desde o primeiro álbum, uma espécie de guia conselheiro dos dois filhos a quem, em tempos que já lá vão, passou o testemunho da Vaillant: a Michel, piloto n.º 1 da marca, a emoção e a correcção nas pistas; a Jean-Pierre, cérebro por trás da empresa, a força e empenho na direcção da fábrica e da equipa.
Mas para além dessa alteração de protagonista, a história não se desenrola em torno de um campeonato de F1 ou de uma qualquer corrida de autódromo, mas num remoto lugar da Irlanda, Connemara, onde uma corrida anual de carros antigos tem lugar desde 1924. A vinheta retrata os momentos antes da partida, revelando o intenso conhecimento de Graton de todo o ambiente em torno das corridas e dos momentos que as antecedem (que se desvenda aliás álbum após álbum), assim como a sua habilidade imensa no desenho ultra realista das máquinas antigas ou na criatividade e talento intermináveis na criação de novos veículos de design arrojado.
Depois de uma fase um pouco desinteressante das Aventuras de Michel Vaillant (que, tirando algumas honrosas excepções, durava desde 1980), este Irish Coffee, de 1986, abriu um novo caminho para a série, que se vinha a revelar um tanto ou quanto repetitiva, por vezes forçada e excessivamente fantasiosa, tornando-se a partir de então mais criativa e alargando as suas fronteiras, espacial e temporalmente.
O mesmo aliás espero para o portuense Circuito da Boavista. Enquanto dado incontornável, que se transforme pelo menos em motor de desenvolvimento da cidade e da região, sem atropelar, com isso, todo um conjunto de elementos patrimoniais, quer naturais quer humanos, nem que faça esquecer, por parte da autarquia, outros eventos tão ou mais importantes que a corrida de calhambeques.

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3 Carruagens:

Anonymous Anónimo said...

Ainda nao me apercebi bem que o Circuito da Boavista e' uma realidade... Como e' que e' possivel???

sábado, julho 14, 2007 4:49:00 da manhã  
Blogger CAP CRÉUS said...

O único livro do Michel Vaillant que tenho é o do Rali de Portugal. E simplesmente adoro, pois leva-me atrás nos anos.
Grande Livro de BD.

sábado, julho 14, 2007 9:51:00 da manhã  
Blogger PCS said...

Steve Warson diz:
Finalmente o regresso da grande série...Excelente texto. A vinheta está fabulosa!!!
Aos poucos aos poucos...anda lá tirar hoje umas fotos. Vamos a isso? Eu pago um "Irish coffee":)
P.S: Eu tenho máscaras e tampões para os ouvidos eheheheh

sábado, julho 14, 2007 2:05:00 da tarde  

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