Do Porto para Copenhaga
"- E porque é que hei-de voar? - grasnava Ditosa com as asas muito coladas ao corpo.
- Porque és uma gaivota e as gaivotas voam - respondia Sabetudo. -Parece-me terrível, terrível!, não saberes.
- Mas eu não quero voar. Também não quero ser gaivota - discutia Ditosa. Quero ser gato, e os gatos não voam.
Uma tarde aproximou-se da entrada do bazar e teve um desagradável encontro com o chimpanzé.
- Nada de fazer caca por aí, ó passaroco! - guinchou Matias.
- Por que me diz isso, senhor macaco? - perguntou com timidez.
- É a única coisa que os pássaros fazem. Caca. E tu és um pássaro, repetiu o chimpanzé cheio de segurança.
- Pois engana-se. Sou um gato muito limpo [...]
-Pois, pois! O que acontece é que essa pandilha de sacos de pulgas te convenceram que és um deles. [...] Estão à espera que tu engordes para fazer de ti um grande banquete. Vão comer-te com penas e tudo! -guinchou o chimpanzé.
Nessa tarde os gatos estranharam que a gaivota não viesse a correr para o seu prato favorito. [...]
-Sentes-te mal? - insistiu Zorbas preocupado. [...]
Fazendo trejeitos de choro, Ditosa contou-lhe tudo o que Matias lhe havia guinchado. Zorbas lambeu-lhe as lágrimas e de repente deu consigo a miar como nunca fizera:
- Tu és uma gaivota. Nisso o chimpanzé tem razão, mas só nisso. Todos gostamos de ti, Ditosa. [...] És uma gaivota e tens de seguir o teu destino de gaivota. Tens de voar. Quando o conseguires, Ditosa, garanto-te que serás feliz [...]
-Tenho medo de voar - grasnou Ditosa endireitando-se.
- Quando isso acontecer eu estarei contigo - miou Zorbas lambendo-lhe a cabeça. - Prometi isso à tua mãe.
A jovem gaivota e o gato grande, preto e gordo começaram a andar. Ele lambia-lhe a cabeça com ternura e ela cobriu-lhe o dorso com uma das suas asas estendida."
Luis Sepúlveda, 1997, História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar
Para ti, amiga. Numa altura triste, é sempre preciso encontrar motivos para sorrir - se não for na amizade improvável de uma gaivota e de um gato, que seja na doçura das palavras de um grande escritor, ou num abraço à distância de uma amiga que vai sempre manter-se por perto.
- Porque és uma gaivota e as gaivotas voam - respondia Sabetudo. -Parece-me terrível, terrível!, não saberes.
- Mas eu não quero voar. Também não quero ser gaivota - discutia Ditosa. Quero ser gato, e os gatos não voam.
Uma tarde aproximou-se da entrada do bazar e teve um desagradável encontro com o chimpanzé.
- Nada de fazer caca por aí, ó passaroco! - guinchou Matias.
- Por que me diz isso, senhor macaco? - perguntou com timidez.
- É a única coisa que os pássaros fazem. Caca. E tu és um pássaro, repetiu o chimpanzé cheio de segurança.
- Pois engana-se. Sou um gato muito limpo [...]
-Pois, pois! O que acontece é que essa pandilha de sacos de pulgas te convenceram que és um deles. [...] Estão à espera que tu engordes para fazer de ti um grande banquete. Vão comer-te com penas e tudo! -guinchou o chimpanzé.
Nessa tarde os gatos estranharam que a gaivota não viesse a correr para o seu prato favorito. [...]
-Sentes-te mal? - insistiu Zorbas preocupado. [...]
Fazendo trejeitos de choro, Ditosa contou-lhe tudo o que Matias lhe havia guinchado. Zorbas lambeu-lhe as lágrimas e de repente deu consigo a miar como nunca fizera:
- Tu és uma gaivota. Nisso o chimpanzé tem razão, mas só nisso. Todos gostamos de ti, Ditosa. [...] És uma gaivota e tens de seguir o teu destino de gaivota. Tens de voar. Quando o conseguires, Ditosa, garanto-te que serás feliz [...]
-Tenho medo de voar - grasnou Ditosa endireitando-se.
- Quando isso acontecer eu estarei contigo - miou Zorbas lambendo-lhe a cabeça. - Prometi isso à tua mãe.
A jovem gaivota e o gato grande, preto e gordo começaram a andar. Ele lambia-lhe a cabeça com ternura e ela cobriu-lhe o dorso com uma das suas asas estendida."
Luis Sepúlveda, 1997, História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar
Para ti, amiga. Numa altura triste, é sempre preciso encontrar motivos para sorrir - se não for na amizade improvável de uma gaivota e de um gato, que seja na doçura das palavras de um grande escritor, ou num abraço à distância de uma amiga que vai sempre manter-se por perto.
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