domingo, abril 15, 2007

Tudo parece perfeito, visto à distância

A alfândega e o Douro vistos por nós há um mês atrás na varanda das Virtudes.

The Postal Service - Such Great Heights

Centro de uma metrópole que, hoje em dia, ultrapassa o milhão de habitantes, o Porto nasceu alcandorado num soco granítico, junto a uma vertente escarpada no tramo final do Douro.
Dali, a partir de onde se coloca a Sé, a cidade do bispo cresceu graças ao comércio próspero, na união da via fluvial com a antiquíssima estrada Atlântica de origens romanas, que unia Olissipo a Bracara Augusta, e que tinha em Cale a sua última estação antes do destino.
As feiras medievais e a posição de porto fluvial e marítimo privilegiado ofereceram liderança económica à cidade, e papel fundamental enquanto centro de toda uma região, que se espraiava pelas margens do Douro e por todo o Minho. Junto ao rio, para lá dos montes e entre os socalcos da paisagem, o vinho do Porto atrairia mais tarde a comunidade inglesa para a cidade que, em comunhão com o povo duriense e com a determinação do Marquês de Pombal, acabariam por criar o produto que hoje é marca indelével da cidade.
A dinâmica de transportes do século de Camilo e de Eça, numa cidade modernizada pelos Almadas no século anterior, acabaria por incrementar esta ligação regional, possibilitando a chegada ao Porto de milhares de migrantes vindos precisamente do Minho e do Douro, e trazendo consigo saberes e costumes que se diluíam e propagavam pela cidade liberal de D. Pedro IV.
Era também do Porto que partiam, em mãos cheias de gente, barcos e barcos sem fim rumo ao Brasil, do cais de Massarelos, primeiro, do porto de Leixões, depois. Era a busca por um mundo novo e por uma oportunidade de vida melhor que, em muitos insucessos e partidas definitivas, trouxe, amiúde, regressos endinheirados à Pátria dos “brasileiros de torna-viagem” que pintaram, com as cores fortes e garridas dos azulejos biselados, os palacetes do oriente portuense e as fachadas de muitos casarões minhotos. Estes homens foram também importantes na dinamização da indústria finisecular, não só no Porto mas em todo o Norte, e não só em fábricas de fiação, lã ou tecidos como a de Padronelo em Penafiel, a de Riba d’Ave ou a de Santo Tirso, mas num espectro produtivo alargado.
Nas palavras de Júlio Dinis, o Porto seria, na segunda metade de XIX, uma cidade com 3 caras. A Ocidente: inglesa, de postura fechada e pensamento no comércio com o Norte da Europa, de arquitectura discreta e sustentada nos chalets. A Oriente: brasileira, de forte pendor industrial e coroada por azulejos e clarabóias coloridas, de aposta em investimentos ousados nas novidades tecnológicas. O centro: portuense, genuíno, tradicional e verdadeiro.
O século XX haveria de trazer o crescimento urbano até à Circunvalação, numa primeira fase, e a produção de uma alargada conurbação com os concelhos limítrofes, num período posterior, criando um conceito mais alargado do “sentir portuense”, sustentado no espírito mercantil, burguês e liberal que a cidade sempre assumiu, e ponte de passagem entre todo o Norte de Portugal para a Europa do Norte, para a Galiza e para lá do Atlântico, em particular para o Brasil.
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Notas:
1 - Ai agora
estes dois lembram-se dos Ride. Por aqui, há muito que eles foram lembrados.
2 - Mais um óptimo post do Fitzx no Cromos da Bola, lembrando uma
longínqua noite de Verão, em que eu também participei.
3 - Lamentavelmente a Helena acabou com o
Coriscos. Bolas...
4 - Mais um magnífico texto do JPP no Público. A ler
aqui.
5 - Espreitem a magnífica recolha do BJr no Obvious, do
espólio artístico de A. Hitler.
6 - O Ricardo está de volta! O autor do genial
Perguntar não ofende regressa com Passagem Estreita. A seguir.
7 - Não deixem de ler o blog
O mal está feito, do João Quadros. Entre vários temas divertidíssimos, o meu preferido é o Famosas antepenúltimas palavras. Muito, mas mesmo muito, bom!

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2 Carruagens:

Blogger PCS said...

Voltaram os excelentes textos a acompanhar as magnificas imagens.

terça-feira, abril 17, 2007 5:37:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

o joão quadros não tem piada nenhuma, além de ser analfabeto. não há paciência para tanto erro.

segunda-feira, abril 23, 2007 10:01:00 da tarde  

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